terça-feira, 16 de julho de 2013

Artigos -Prossegue na UFRN Semana Bartolomeu Correia de Melo - Nelson Patriota



Desde a última quarta-feira até meados desta semana, toda a obra literária de Bartolomeu Correia de Melo está em exibição na Cooperativa do Campus Universitário da UFRN, dentro das comemorações do segundo ano de falecimento desse escritor, evento que mereceu, por essa razão, a denominação de Semana Bartolomeu Correia de Melo.

Para oficializar a celebração, a professora Verônica Melo, viúva do escritor, autografou o livro “Musa Cafuza”, recém-lançado pela Editora Bagaço, reunindo toda a poesia que Bartola foi produzindo a conta-gotas ao longo de mais de três décadas, em contraponto a sua prosa caudalosa e vibrante que lhe ocupou as horas de ócio de que dispôs numa existência devotada ao magistério na área da química.

Falta agora, para fechar a Coleção Bartolomeu Correia de Melo, o livro “Rosa Verde Amarelou”, enfeixando toda a sua produção na área do conto, vale dizer, “Tempo de Estórias”, “Estórias Quase Cruas” e “Lugar de Estórias”, enriquecido ainda de parte de sua fortuna crítica. Em fase adiantada de realização, a obra deverá ser lançada ainda este ano, o que ensejará certamente nova comemoração entre seus muitos leitores daqui e de outras localidades.

Um público pequeno mas representativo de instituições culturais como a Academia Norte-rio-grandense de Letras, a UBE/RN e o Conselho Estadual de Cultura prestigiou a abertura da Semana Bartolomeu Correia de Melo na manhã da última quarta-feira, na Cooperativa do Campus da UFRN. Por essa razão, constituiu motivo de grande perplexidade por parte dos organizadores da Semana – leia-se a própria Cooperativa Universitária e UBE/RN –, a ausência de professores e alunos dos cursos de Letras, Jornalismo e áreas afins. Até porque foram distribuídos cerca de 600 convites impressos, e outros tantos eletrônicos para as instancias acadêmicas da UFRN. Não custa lembrar ainda que Bartola foi durante toda a sua vida útil professor do Departamento de Química da UFRN e, por alguns poucos anos, presidente da Cooperativa que agora o homenageava.

Sabemos que a rotina de um professor universitário é sobrecarregada por diversas tarefas extraclasse, e encaixar nessa agenda uma tarefa suplementar não deve ser fácil. A total ausência de alunos e professores que têm na literatura uma de suas atividades-alvo é, no entanto, incompreensível. Sobretudo em se tratando de um evento cercado de um grande atrativo, isto é, o lançamento de um livro inédito de um escritor que vem despertando admiração e elogios entre leitores de todo o país.

À academia não interessa o novo? Não o cremos, porque nunca cessa a descoberta de novos autores nas pesquisas acadêmicas. Seria então a cor local que passa ao largo da vida universitária? Talvez que seja esse o caso, e a razão deve ser que seus professores têm dificuldades em se atualizar com a matéria-prima de que tratam, embora o mesmo não aconteça quando se trata da adoção de novas teorias. O que nos faz lembrar um comentário do poeta pernambucano Marcus Accioly: “Os professores de Letras não gostam de literatura, gostam de teorias”.

Ou talvez por que não tenham tempo para ler os autores que discutem, absortos que vivem em intrincadas teorias na busca de explicar a obra literária. Mas isso é só parte do problema. A outra é certa postura “high profile” assumida por alguns no que toca aos autores locais. Pensemos na longa demora que retardou o reconhecimento da importante obra de Luís da Câmara Cascudo, hoje, por louvável ironia, nome de um núcleo de estudos acadêmicos na UFRN.
Enfim, a academia é lenta, como toda instituição complexa. Não achamos que esse seja um defeito insanável. O que sucedeu com Cascudo – sua canonização – poderá suceder a Bartolomeu Correia de Melo, não obstante as diferenças que separam esses dois autores: um ficcionista, o outro historiador. Mas para tanto é indispensável uma mudança de postura por parte daqueles que trabalham com as criações do espírito em âmbito universitário. Do contrário, ficarão sempre defasados quanto ao novo, o que é, convenhamos, extremamente antiacadêmico

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